domingo, 23 de agosto de 2015

Histórias da Jovem Guarda

Em 1956 Roberto Carlos se muda de Cachoeiro do Itapemirim-ES para Niterói, onde passou a morar com a tia Amélia. Em 1957 o colega de escola, Arlênio Lívio o apresentou a um grupo de amigos que costumava se reunir pra tocar violão e cantar no Bar do Divino, na rua Haddock Lobo, Bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Desse grupo fazia parte Tim Maia, José Roberto, Wilson Simonal, Jorge Ben e Erasmo Carlos (Erasmo Esteves). Com a integração de Roberto Carlos ao grupo, formaram a banda Sputinik, que não chegou a fazer nenhum sucesso, embora tivessem conseguido gravar alguns discos compactos. Nessa época todos tinham entre 16 e 19 anos, com muitos sonhos e quase nenhuma experiência no meio artístico. O Erasmo, por exemplo, sequer sabia tocar violão ainda.
Entre 1958 e 1960 Erasmo, Edson Trindade, Tim Maia, Arlênio e José Roberto (o China) formaram uma nova banda chamada The Snakes, que não foi além apresentações em festas particulares e bares da região da Tijuca e Santa Tereza, no Rio de Janeiro.
Enquanto isso, Roberto Carlos tentava a sorte fazendo bicos como cantor em boates de Niterói e Copacabana, tendo, inclusive, se apresentado no programa do Chacrinha e até gravou o seu primeiro LP ("Louco por Você" - 1961), produzido por Carlos Imperial, com músicas românticas e Bossa Nova, mas que não fez sucesso.
O seu primeiro contato com o Carlos Imperial se deu em 1959, quando Roberto Carlos, ainda um garoto de 17 anos, depois de vários dias de tentativas frustradas conseguiu abordá-lo nos corredores da TV Tupi do Rio. Informou que era seu conterrâneo de Cachoeiro do Itapemirim e que se encontrava no Rio tentando a vida como cantor. Apresentando-se como cantor de Bossa Nova e Samba-Canção, mas que também costumava imitar Elvis Presley, ali mesmo no corredor da emissora, a pedido do produtor ele pegou o violão e cantou Tutti Frutti, deixando Imperial muito impressionado pela sua genialidade musical e pelo seu jeito tímido e carismático.
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Por sua vez, a banda Snakes, de Erasmo Carlos, Tim Maia e Edson Trindade, tentava sucesso, em vão. Numa dessas fossas de adolescente, o Edson Trindade decidiu sair da banda, ameaçando até se suicidar por causa do fim do namoro com uma moça chamada Meire. Por isso, até hoje eles referem-se à essa Meire como "a Yoko Ono dos Snakes".
Porém, alguns semanas depois ele reapareceu pra ensaiar, todo eufórico, trazendo no bolso uma música nova e explicando que tinha composto a mesma quando a Meire terminou o namoro com ele, mas que agora eles tinham voltado e, por isso, queria ensaiar novamente com a banda. Tim Maia gostou muito da música, a qual gravou anos depois, tornando-se um dos seus maiores sucessos de todos os tempo. Essa música era "Gostava Tanto de Você".
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Em 1961, com a volta de Roberto Carlos, que tocava violão muito bem e cantava tudo o quanto era estilo musical, os Snakes começaram a deslanchar, agora com o apoio de Carlos Imperial. Porém, meses depois a banda fechou um contrato para acompanhar o famoso cantor Cauby Peixoto. Com isso, Roberto Carlos formou outra banda, levando Tim Maia, com a qual começou a abrir espaço para se apresentar em emissoras de rádio e boates chiques do Rio de Janeiro, tornando-se conhecido no meio artístico. 
Em 1963 Roberto Carlos emplacou o seu primeiro sucesso com o lançamento do LP Splish Splash, contendo músicas e versões compostas em parceria com Erasmo Carlos. Esse disco estourou, quase que simultaneamente, as músicas É proibido fumar, Parei na contra mão e O Calhambeque, além da música título do LP. 
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Em 1965 Roberto Carlos foi convidado para participar de um programa na TV Record de São Paulo, onde foi entrevistado, tocou violão e cantou ao vivo, deixando os apresentadores, produtores e executivos da emissora muito bem impressionados. Dias antes essa emissora havia perdido a concessão para transmitir jogos do campeonato brasileiro nas tardes de domingo. E, vendo a desenvoltura e o talento do rapaz, tiveram a ideia de convida-lo pra testar um programa de auditório com o propósito de preencher esse horário ocioso, enquanto a emissora negociava o retorno da concessão para transmissão do futebol. Apesar do formato meio improvisado do programa, Roberto Carlos aceitou de cara, sem consultar a sua turma da Tijuca, mas contando com eles. A sugestão do nome Jovem Guarda veio como uma alusão à Velha Guarda de músicos e compositores de sambas e enredos clássicos do Rio de Janeiro e também, como uma forma de prestigiar a garotada que protagonizaria o programa e, de quebra, conquistar a simpatia e atrair a audiência do público carioca. 
Assim, por um golpe de sorte do destino e graças ao talento, à genialidade e ao carisma de um garoto romântico e sonhador, o que seria apenas uma ou duas apresentações isoladas acabou se transformando num dos maiores fenômenos de mídia da história deste país!
E, no dia 22 de agosto de 1965, juntamente com seus amigos do Rio de Janeiro, Roberto Carlos inaugurou o primeiro programa de uma série que, em menos de três anos no ar, transformou-se num movimento social que mudou para sempre, não só a música brasileira, mas também a cultura, os costumes, a maneira de se vestir e até o vocabulário, pois dezenas de gírias inventadas por eles se tornaram verbetes de dicionários.

[Do livro "Minha Fama de Mau", de Erasmo Carlos, e biografias da Wikipedia brasileira]---
Vejam neste link a minha gravação de Festa de Arromba.

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