"Carmo nos seus 100 anos de história, traz consigo a história de sua gente. Como toda terra tem seu povo, seus costumes, suas tradições, seu linguajar, Carmo não poderia ser diferente. E como é interessante conhecer ou, para alguns, reviver tudo isto!
Carmo tem sua origem na alegria, pois nasceu de uma serenata e como isto é característica do carmense! Quando se fala em Carmo, pensa-se logo no entusiasmo, na vibração e alegria de seu povo.
Contavam-nos nossos pais e avós dos animados “Terços de Reis”, das “Folias”, dos pagodes, das festas religiosas; São Sebastião, Semana Santa, quando os moradores da zona rural se deslocavam em carros de bois, trazendo uma verdadeira mudança para a cidade e se acampavam nas praças para uma semana de “reza”.
As serenatas acompanharam a história do Carmo até o dia de hoje.Ontem, um bandolim, um violão, um saxofone, a rosa na janela,a voz do seresteiro apaixonado à sua amada, enchia o silêncio das noites carmenses. Hoje, os barulhentos pneus de carros e motocas se juntam ao som de gravadores, muitas vezes com música estrangeira, animando todos os finais de semana; quantos jovens vestindo jeans e camisetas coloridas fazem serenatas às suas “gatas”. Interessante lembrar ainda, que as serenatas terminam sempre com uma galinhada, na maioria das vezes, de galinha roubada.
Aconteceu certa vez, que o seresteiro já de “grau” e de posse da galinha, não conseguiu pular o muro. A dona da casa levantou-se e convidou o “ladrão” a sair pela porta, carregando a galinha...
As festas juninas eram famosas em toda a região, onde jovens e casais dançavam linda quadrilhas à luz de lampião. Fogueiras enormes se erguiam nas calçadas e crepitavam noite adentro, enquanto fogos estouravam aqui e ali.
Os carmenses a cavalo, mais pareciam uma comitiva real: carroças enfeitadas, biscoitos de polvilho pendurados nos arcos `a entrada da fazenda, por onde os noivos passavam, para que a sorte os acompanhassem para o resto da vida . Realizavam também, casamentos tratados pelo pai, em que o noivo escolhia a filha mais nova ou mais bonita, e, na hora do casamento, deparava-se com a mis velha, e quem sabe - a mais feia.
Para as moças a distração preferida era o vai – vem. Vestidos rodados, ajustados na cintura, laçarotes, tom de carmim nos lábios, retratavam a famosa beleza feminina carmense.por outro lado, os rapazes, trajando ternos e gravatas, andavam em círculos, em direção contrária a das moças.um flerte, um recadinho, meia dúzia de palavras trocadas com a amada, causavam suspiros dos jovens apaixonados.
Carmo também é famosa pelas suas iguarias. Os gostosos biscoitos de polvilho, não faltam até os dias de hoje, em nenhuma mesa carmense.Todo final de semana, é sagrado o dia de sábado, para as tradicionais quitandas: pão de queijo, biscoito de polvilho, roscas e bolachinhas. Agora com menos freqüência, mas antigamente sempre, a troca de pratos com a vizinhança e comadres.Os doces também têm seu lugar: doces em calda das mais variadas frutas, marmelada, bananada, goiabada e o pé-de-moleque fazem parte do cardápio diário.
Outra curiosidade do Carmo são os apelidos. Eles são tão comuns e falados por nós, que muitas vezes, é preciso informações dos nomes das pessoas, pois quase ninguém as conhece pelo nome: Zé Bocão, Zé Catraia, Zé Paixão, Zé Piolho, Zé Vermelho, Zé Broca, Zé Sá Onça, Zé Piriquito, Zé Galo, Zé Galinha, Zé Macarrão, Zé Revólver, Zé Quê que isso, Zé Gago, Zé Pestana, Zé Russo, Zé Pança, Zé Bem, Zé Borrachudo, Zé Feijão, Zé Borré; João Bambu,João Carijó, João Corujão, João Lobo, João pandeiro, João Jiló, João Boné, João Viola, João Pracatá, João Peleco; Mané Bigode, Mané Vete, Mané Seiscentos,Mané Nariz;Bastão Vaca, Bastião Bocó, Bastião Boca de Égua, Bastião Noé,Pavão, pintinho, Urubu Choco, Morcego, Bezerra, Coelho, Cuca, Boi, Frango, Bode, Peixe e Peixinho ( pai e filho), Canarinho, Porquinho, Capadinho, Tatu, Lesmão, Gato, Pato, Besoro, Marreco, Maria Patinha, Burrinho, Bolinha, Totó, Pé de Manga, Chuchu, Mangão, Tomate, Batata, Tião Goiaba, Tirinha, cacau, Beterraba, Pipino, Direito e Canhoto ( gêmeos),Barbinha, Botija, Nossa Amizade, Pizadura, Firidinha, Dentão, Pirola, Tetéia, Pepeu, Melado, Chico do Muleque, ferrugem, Vê Oito, Te Quebro a Cara, Fençal, Rolô, Macuco, Bicudo, Bilu, Zoredo, Biúca, Bola Sete, Faquinha, Cheque, Gerardinha Casô, Quitão, Pipoca, Piorra, grega, Motorão, Lambreta, Velocípede, Joaquim Brinquim, Pisca - Pisca, Pila, Rema, Cabeção, Caixote, Catatau, Catitu, Capitão, Marechal, Paininha, Prego, Porém, Deiró, Mirote,Pichico, Manduca, Teteu, Garrucha, Cambão, Dedão, Ganga, Cascão, Tataco, Tubá, Torrado, Boiadeiro, Bim, Cafilete, Serrote, Beba, Tião Raspão, Babá,Sabuco, Sandruba,Pilatoba, Furreca, Curinga, Caéca, Biláu, Bica, Punga, Chico Bunito, Sá Cumade, Biloca, Miniu,Niniu, Tiziu, Tio – Tió, Tô, Bigorra, Paxola, Rola, Paca tem Rabo, Pesão Purunéia, Dotôcaria,Curingo, Celefonte, Calango, Curralero, Bateria, Guacho, Martelo, Péia, Cambota, Puruca, Titumba, Ferrão, Prestígio, Ridu, Tia Preta e Dona Galinha ( dois homens), Coco e muitos outros.
Cena muito comum em Carmo, era a criançada brincar nas ruas e calçadas: maré, pelada, peteca, bola quadrada, e boca de forno, eram as preferidas.
Antes da televisão, as famílias se sentavam nas portas das casas, e ali nas calçadas, junto aos vizinhos, lembravam e contavam casos de antigamente.
Sinhá era uma preta velha, que caminhava da roça até a cidade, com um balaio na cabeça, para vender bananas, laranjas, frangos, ovos etc.Para ela, isso se tornou sua própria vida.Mal clareava o dia,lá vinha a Sinhá, assim conhecida por todos, do São Bento ao Carmo, com seu balaio na cabeça.De manhãzinha, já na cidade,ela ia de porta em porta oferecendo sua “mercadoria”aos seus fregueses.Sua freguesia era sempre a mesma, pois há tempos, que Sinhá fazia isto.
Um dia, na casa de uma de suas freguesas foi interrogada:
-Sinhá, há quanto tempo a senhora vende coisas na cidade? Para dizer que desde criança ela fazia isso, e,pela vida afora iria continuar fazendo, respondeu:
- Ih, minha fia, eu nasci c’u balaio, crisci c’u balaio,fiquei moça c’u balaio, casei c’u balaio, tive meus fio c´u balaio e vô morrê c’u balaio.
Um senhor,quando da morte do presidente Kennedy,nos Estados Unidos, ouviu os comentários, que num minuto era assunto de toda a cidade.Chegou apavorado em casa e comentou: “ Mataram um tal de João Quente ali pra cima, mais tá um ribuliço feio!”
Por ocasião do Natal,dois lixeiros tiveram a iniciativa de fazer uma campanha para que seu Natal fosse mais “gordo”. Então, procuraram uma professora que morava numa das casas que eles varriam e pediram a ela que elaborasse uma mensagem, em nome deles, pedindo uma ajuda no Natal. A professora prontificou a atendê-los e lhes deu um cartão já impresso:
“Com vassoura e dedicação,
Limpam sua rua, o Adão e o Divino,
Limpe também seu coração,
Para acolher o Deus Menino.”
Feliz Natal!
Dê sua contribuição aos lixeiros de Carmo do Paranaíba.
Assim saíram eles, felizes da vida, distribuindo os cartõezinhos, na área em que trabalhavam. O resultado foi um sucesso! Verdadeiras cestas de Natal foram oferecidas a eles. Dias depois, os dois muito reconhecidos, foram até a casa da professora, quando um, tomando a palavra,disse: “Óia nois veio agradecê a sinhora pelus cartão. Muito obrigado a senhora pela normação da iscrivintia e pela bateção da maquininha.”
Numa procissão de São José Operário, um devoto,achou por bem auxiliar os padres na organização das filas e começou a gesticular, mostrando por onde o povo deveria passar e ia dizendo: “Vamo abrino ala, vamo andano, vamo comperá com São José Operado”.
Lembramos estes causos, não com o intuito de criticar ninguém, muito pelo contrário; a intenção foi de mostrar ao povo como é interessante nossa cultura e nossa gente, com seu próprio jeito de ser. Cada um, a seu modo, do seu “jeitinho, deu seu recado e se fez entender.
Carmo é assim, na sua maioria, de gente simples, humilde, mas de um coração grande, hospitaleiro,sensível e aberto aos que aqui estão e aos que chegam.
Para encerrar, deixo aqui trechos da musica de Vinícius, Chico, Garoto:
“ São casas simples com cadeiras na calçada ...
Aí me dá uma inveja desta gente,
É gente humilde, que vontade de chorar”...
Parabéns, Carmo! Parabéns, povo carmense!”
Crônica de autoria de Maria Dulce Andrade, em homenagem à sua pitoresca cidade natal, por ocasião do seu centenário de fundação.
Crônica de autoria de Maria Dulce Andrade, em homenagem à sua pitoresca cidade natal, por ocasião do seu centenário de fundação.
Um comentário:
Grande Márcio,
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