A Revista Forbes publicou na semana passada, cinco razões
pelas quais o Brasil não deveria reeleger Dilma Roussef para Presidente da República.
Eu compartilhei a matéria afirmando que eu tenho cinquenta razões!
E, de
fato, tenho dezenas, seja de natureza ideológica, moral, social, profissional, econômica,
política, etc... Todavia, dentre todas estas razões, a mais relevante vem da minha
experiência dentro do Governo, conforme eu descrevo a seguir.
Por meio de um concurso do qual participaram inéditos 850
candidatos por vaga, entrei para a Administração Pública Federal em 1988, me abdicando
de uma carreira promissora, depois de 14 anos como Engenheiro Mecânico e Especialista
em Informática, em empresas multinacionais de Minas Gerais.
Juntamente com outros cerca de 90 selecionados, passamos
por um processo de capacitação intensivo de alto nível ao longo de 19 meses, somando
mais de 2.600 horas-aula. Em seguida, fomos empossados nos cargos pelo Presidente
da República, assumindo as atribuições de exercer a "gestão governamental
nos aspectos técnicos relativos à formulação, implementação e avaliação de políticas
públicas, bem como de direção e assessoramento em escalões superiores da Administração
Pública Federal", conforme rege a legislação específica.
Em outras palavras, esse contingente de servidores pioneiros
assume a missão de dirigir e coordenar os altos níveis da burocracia governamental
e assessorar os escalões superiores da Administração Pública Federal, com prerrogativas
legais para intervir nas diversas fases do processo de implementação das políticas
de governo, bem como no gerenciamento administrativo, constituindo-se, assim, em
"um quadro técnico-profissional criteriosamente selecionado e altamente
qualificado, para fazer a interface entre os escalões de nível político e a estrutura
funcional do Estado", nos termos do Decreto que regulamenta a carreira.
Assim, entre 1990 e 2003 pude realizar feitos memoráveis,
ocupando funções de altíssima relevância na Administração Federal, algumas das quais
me renderam, inclusive, diversas condecorações oficiais. Dentre estas funções eu
destaco, particularmente, a minha atuação na diretoria da Auditoria de Recursos
Humanos, na qual, além de corrigir milhares de irregularidades de vínculos funcionais
ilegais e folhas de pagamentos corrompidas em centenas de órgãos federais, nos coube
também identificar e providenciar os meios para a regularização de mais de mais
de 60 mil acumulações ilícitas de cargos, tanto dentro do próprio Governo Federal,
quanto nos cruzamentos com Estados e Municípios.
Destacadamente, nessa mesma função, cumprimos a missão
de propiciar os meios legais para que o Governo obrigasse às Instituições Federais
de Ensino a processarem as respectivas folhas de pagamento pelo sistema central
e, assim, cumprirem as normas legais e acabarem com inúmeras fraudes e erros verificados.
Contudo, a despeito da realização profissional e da consciência
do dever cumprido, registre-se que, ao contrário do que possa parecer, essas ações
não trouxeram benefícios ao funcionalismo. Pelo contrário, neste período, os servidores
públicos federais amargaram perdas gigantes, ao longo de todo o governo de Fernando
Henrique Cardoso. Não só atravessamos os oito anos com a remuneração congelada,
sem um único centavo de correção, como também extinguiram-se várias gratificações,
enquanto outras, que antes eram concedidas como direito adquirido, passaram a ser
condicionadas à Avaliação de Desempenho. Além disso, diversos direitos importantes
foram abolidos, tais como a estabilidade para a maioria das carreiras, a remuneração
por substituição, os chamados "quintos" e "décimos" (espécie
de retribuição por tempo de serviço em cargos de Direção, em contrapartida ao FGTS
do trabalhador privado), etc... (Confira AQUI).
A REVIRAVOLTA APÓS A POSSE DE LULA
Em 2003 eu ocupava uma Assessoria Especial no Ministério
do Trabalho - MTB, coordenando um Grupo Interministerial cuja missão era propor melhorias
na gestão de pessoal. Entretanto, com a posse do PT no Governo e a nomeação do sindicalista Jacques Wagner para o MTB, trazendo para a Secretaria Executiva um certo Alencar Ferreira, ex-sindicalista do Banco do Brasil, a equipe que eu liderava passou
a ser “inflada” com pessoas provenientes das mais insólitas origens, incluindo CUT,
MST e sindicatos de tudo o quanto se imagina, vindos de todas as regiões do Brasil.
Essa gente me era encaminhada pelo novo Secretário Executivo
- um ex militante oriundo do Banco do Brasil de São Paulo – simplesmente com a ordem
para integrá-los ao grupo. Porém, a grande maioria deles sequer sabia do que tratava
a pauta! E, embora não tivessem nenhum vínculo com a Administração Pública, eles
vinham para Brasília - não sei como - com passagens aéreas e diárias pagas pela
Administração, geralmente para passarem a semana inteira, incluindo sábado e domingo,
muito embora a equipe fizesse apenas uma reunião na semana.
Vendo esse Grupo se tornar um verdadeiro poleiro de oportunistas
petistas e vendo os propósitos se esvaírem do meu controle, entreguei meu cargo
ao Secretário Executivo, que se mostrou aliviado, pois sem a minha atuação poderiam
realizar suas falcatruas livremente. E, para nosso espanto, nas semanas seguintes
ele despachou outros quatro Assessores com perfil similar, de volta para os respectivos
órgãos de origem.
PRESIDINDO PROCESSOS ADMINISTRATIVOS
NA ANAC
Fui para o Ministério da Justiça, onde o corpo dirigente
não era subserviente aos desmandos petistas e depois de alguns anos fui convidado
para a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, onde, em razão da minha familiaridade
com auditoria, assumi a presidência várias Comissões de Processo Administrativo
Disciplinar, em regime de superintendência.
Uma dessas Comissões recebeu a missão de investigar denúncias
de corrupção e tráfico de influência envolvendo Israel Guerra, filho da Ministra
da Casa Civil da Presidência da República, Erenice Guerra, que também era suspeita
de conluio (veja reportagens AQUI e AQUI).
O senhor Israel já era meu conhecido! Em outro Processo
Administrativo que eu havia conduzido no Ministério da Previdência para investigar
o ex Ministro daquela pasta, José Chechin, juntamente com o ex Advogado Geral da
União adjunto, José Weber Holanda Alves, eu constatei que este último tinha vínculos
suspeitos com Rubens Vieira, então Diretor de Infraestrutura Portuária da ANAC.
Este, por sua vez, supostamente dava cobertura e camuflava denúncias contra o manjado
"servidor" Israel Guerra (veja reportagem AQUI). Chechin,
Weber Holanda e Rubens Vieira foram presos mais adiante, na operação Porto Seguro,
da Polícia Federal.
Voltando ao senhor Israel Guerra, este, na condição de
filho da segunda maior autoridade da República, tinha acesso livre ao Palácio do
Planalto, onde costumava despachar com empresários, numa sala anexa aos gabinetes
da Presidência. Com esse respaldo e ocupando um alto cargo na ANAC, de onde obtinha
e usava informações privilegiadas, o rapaz e mais dois comparsas extorquiam empresários
da aviação civil, agindo de tal modo debochado e inescrupuloso, aterrorizando-os
a ponto de alguns cogitarem a fechar as empresas e se mudar do país. Era algo estarrecedor!
Diante de tantas e tão robustas provas, de acordo com a
minha competência legal de servidor público de carreira, cumpri o meu dever de ofício,
instaurando o devido Processo Administrativo Disciplinar. Após as apurações, levei
a efeito tudo o que exige a Lei, propondo a punição cabível no âmbito administrativo,
que consiste na demissão sumária, a bem do serviço público. Em seguida, em cumprimento
do que exige a legislação e para o terror daqueles corruptos, remeti cópia integral
dos autos ao Ministério Público Federal, solicitando a apuração na seara criminal.
Todavia, ao que me consta, não foi cumprida (ainda) a execução
da sentença determinada no Processo Administrativo. Tanto que não tive mais informações
sobre os autos enviados à Casa Civil da Presidência da República. Porém, creio que
o Ministério Público tenha cumprido sua parte, levando-os à justiça para responderem
criminalmente.
AS RETALIAÇÕES DO GOVERNO
Como é uma praxe desse grupo que ocupa o nosso Governo,
me restaram as retaliações! Algum tempo depois, quando eu ocupava uma Coordenação
no Ministério da Previdência Social, uma recém empossada Assessora do então Ministro Carlos Gabas, também envolvido em suspeitas várias, me chamou ao seu gabinete para me comunicar, em tom de alerta, que nem o Ministro nem ninguém deste governo gostava de Gestor Governamental
porque, segundo ela, éramos um grupo de prepotentes, sobretudo no meu caso,
que já teria "causado problemas para pessoas importantes do governo".
Sem alternativas, entreguei o cargo e retornei para o meu
órgão de origem, o Ministério do Planejamento onde, ao invés de ser realocado, conforme
determinam as normas que regem a minha Carreira, fui posto em espera, em casa, num
primeiro momento por mais de 5 meses e, numa ocasião posterior, por outros 7 meses.
Permaneci isolado, amargando um castigo inédito, simplesmente pelo fato de não ter
sido conivente com a corrupção e com a improbidade dessa gente.
Contudo, muito embora esta narrativa aborde tão somente
fatos particularmente protagonizados por mim, posso assegurar que se tratava de
uma regra comum e que outros colegas de carreira, assim como tantos outros servidores
de outras carreiras de Estado também foram constrangidos, quando não perseguidos
e isolados por agentes deste governo, simplesmente por não fazerem conluio com a
corrupção, por serem profissionais comprometidos com a austeridade e com legalidade.
Por isso, foram vítimas desse tipo de atitude perversa, por meio da qual o governo
petista tirava de circulação importantes valores profissionais, para evitar que
eles estragassem os esquemas de corrupção.
Essa regra nefasta certamente não está restrita exclusivamente
aos atuais mil e poucos servidores da Carreira de Especialistas em Políticas
Públicas e Gestão Governamental. Assim, amplie-se
os seus efeitos nocivos às demais áreas de governo e se chegará a um resultado desastroso
para a Administração como um todo.
Ressalte-se, ainda, por oportuno, que ao contrário da política
de racionalização e enxugamento adotada por FHC, impondo, inclusive, severos sacrifícios
ao funcionalismo público conforme dito acima, o governo Lula, ao contrário, concedeu
cerca de 255% de aumento, em média, inclusive para minha própria Carreira, elevando
o gasto com a folha de pagamentos de R$ 89 bilhões em 2002 para R$ 914 bilhões em
2014.
Entretanto, eu não faço minhas considerações meramente
focando meu próprio umbigo! Minhas convicções partem do pressuposto de que a Administração
Pública e o Estado Brasileiro não podem ser convertidos num curral privado, tampouco
ser refém de uma gestão desconectada da realidade social do país, chefiada por bandidos
e incompetentes profissionais.
* Marcio Almeida é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador
de Empresas, MBA em Gestão Governamental e Ciência Política, Especialista em Informática,
ex Diretor de Auditoria do Governo Federal, Ex Presidente de Processos Administrativos
da Agência Nacional de Aviação Civil, Coordenador Geral de Modernização e Tecnologia
nos Ministérios da Justiça e do Trabalho e Emprego, pesquisador autodidata em Nutrologia
e Nutrição Esportiva, História e Sociologia, Meio-Maratonista, M∴M∴
5 comentários:
Márcio Almeida,
Tenho orgulho em poder te cumprimentar EFUSIVAMENTE pelo conteúdo de seus relatos tão reais e ao mesmo tempo que nos fazem sentir vergonha em relação a pessoas que exercitam a velhacaria e desonestidade nos poderes deste país, desviando os recursos para os próprios bolsos, recursos estes que deveriam ser destinados aos cidadãos de bem através de obras e serviços públicos e, em especial, que assegurassem um pouco de esperança aos mais pobres e humildes.
Parabéns!
Evandro Fontes.
Após reler as verdades trazidas Por Marcio Almeida, Quero ainda destacar que não podemos nos deixar enganar e desistir de lutar! temos que ter em mente que a maioria dos Brasileiros não são como os petistas e sim como você Marcio Almeida que acordam todo dia cedo e vão trabalhar e lutam com honestidade e moral para levar uma vida digna e proporcionar o mesmo a sua família! Não podemos nunca pensar que a maioria dos Brasileiros são corruptos, por que não são! O que ocorre é que uma minoria de corruptos e sem caráter tomam o poder e começam a praticar atrocidades nos dando a falsa impressão de que a corrupção e a roubalheira são normais e aceitáveis na politica! Não é assim! Temos que tomar consciência e lutar até o fim contra o mal que assola nosso país. Não a corrupção! Não a falta de caráter!!! Sim ao Brasil e ao Povo Brasileiro!!!
Mucio Moreira.
Amigo de Marcio Almeida.
Brasileiro que acredita em um país melhor!
Graças que encontrei alguem que passou exatamente pelos mesmo caminhos que eu, encontrando pessoas sem qualificações para assumirem funções importantes no governo de um país em desenvolvimento. Tambem vi e convivi com secretários de sindicatos, indicados para alto escalão do governo. E assim foram 12 anos de incompetência, substituindo funcionários preparados por companheiros de partido que se sentiam autoridades ao receberem um notebook funcional que serviam apenas para jogo de "paciência".....vergonhoso, o PT é um partido inescrupuloso. Quanto ao aumento de salario, que é uma bandeira desses radicais PTISTAS....lamento ! Isso não deveria ser usado a favor de vcs pois na verdade estavam dando aumento a eles próprios......
Como eu fico triste com a volta desse PT isso tinha q sumir do mapa
Espero um dia que nosso país seja governado por um Nayib Bukele
Postar um comentário